sábado, 2 de julho de 2011

Auto-realização através do domínio da mente (Raja Yoga) - segunda parte

A prática é absolutamente necessária. Podeis sentar-vos e ouvir-me uma hora por dia, mas se não praticardes, não adiantareis um só passo para a frente. Tudo depende da prática. jamais compreenderemos essas coisas se não as experimentar-mos. Temos que vê-Ias e senti-Ias por nós mesmos. Simplesmente ouvir explicações o teorias nada adiantará.


~ A Raja-Yoga está dividida em oito passos. O primeiro é yama - não matar, não mentir, não roubar, não ser incontinente, e não cobiçar. Depois vem niyama - pureza, contentamento, austeridade, estudo e entrega de si próprio a Deus. A seguir vêm âsana, ou postura; pranayama, ou controle do prana; pratyahara, ou retração dos sentidos; dhârana, ou concentração da mente num ponto; dhyana, ou meditação; e samadhi, ou contemplação.

Yama e niyama são treinamentos morais. Sem eles como base, não há prática de Yoga bem sucedida, e uma vez estabelecidos, o yogue começa a compreender os frutos de sua prática. Um yogue não deve pensar em magoar seja quem for, por pensamentos, palavras ou atos. A misericórdia não deve limitar-se apenas ao homem, mas ir além e abarcar todo o mundo.

O passo seguinte é ásana, postura. Uma série de exercícios, físicos e mentais devem ser feitos todos os dias, até que certos estados superiores sejam alcançados. Portanto, é muito necessário que encontremos a postura na qual possamos permanecer por mais tempo. A postura mais fácil para cada um deve ser a es. colhida. Para pensar, uma determinada postura pode ser muito fácil para um homem, mas muito difícil para outro. As correntes dos nervos têm de ser deslocadas e conduzidas a um novo canal. Novas espécies de vibrações começarão, e toda a constituição será remodelada, por assim dizer. Mas a maior parte da atividade residirá ao longo da coluna vertebral, de forma que o necessário para a postura é manter a coluna vertebral livre, sentando-se ereto, mantendo as três partes - peito, pescoço e cabeça - em linha reta. Deixai que todo o pêso do corpo seja suportado pelas costelas, e então tereis uma postura fácil, natural, com a espinha ereta. Podereis ver, muito facilmente, que não tereis pensamentos muito altos, se encolherdes o peito.

Essa parte da Raja-Yoga é algo idêntica à HathaXoga, que trata precisamente do corpo físico, e visa tornar o corpo físico bastante forte. Nada temos a ver com isso aqui, porque suas práticas são muito difíceis e não podem ser aprendidas num dia. Afinal, nem conduzem a um crescimento espiritual muito grande. Seu objetivo é físico, não psicológico. Não há músculo do corpo sobre o qual o homem não possa exercer perfeito controle. O coração pode ser detido ou novamente posto em movimento, à vontade, e cada órgão físico pode ser controlado da mesma maneira. O resultado dessa parte ' da Yoga é fazer que os homens vivam muito: a saúde é a idéia principal, o único objetivo do hatha-yogue. Ele está disposto a não adoecer, e nunca adoece. Vive muito. Cem anos nada é para ele. Quando chega ao cento e cinqüenta anos, está viçoso e jovem, sem um fio de cabelo branco. Mas isso é tudo. Uma árvore banyan - a figueira da Índia - vive, às vezes, cinco mil anos, mas não passa de uma banyan. , Assim, se um homem vive muito, não passa de um animal sadio.

A prática é absolutamente necessária. Podeis sentar-vos e ouvir-me uma hora por dia, mas se não praticardes, não dareis um só passo para a frente. Tudo depende da prática. Jamais entendemos as coisas enquanto não as experimentamos. Temos de ver e sentir por nós mesmos. Ouvir, simplesmente, explicações e teorias, de nada adiantará.

Há vários obstáculos à prática: o primeiro é um corpo sem saúde. Se o corpo não está em condições apropriadas, a prática será obstruída. Portanto, temos de manter o corpo em boa saúde. Temos de cuidar do que comemos e bebemos, e do que fazemos. Sempre faremos um esforço mental para manter o corpo forte. Isso é tudo - nada mais além do que se refere ao corpo. Não devemos esquecer de que a saúde não passa de um meio para atingir um fim. Sua saúde fosse o fim, seríamos como os animais. Os animais raramente adoecem.

O segundo obstáculo é a dúvida. Sempre nos sentimos tomados de dúvidas sobre as coisas que não vemos. Os homens não podem viver de palavras, por mais que o tentem. Assim, assalta-nos a dúvida sobre se haverá ou não alguma verdade nessas coisas, e mesmo o melhor de nós às vezes duvida. Com a prática, dentro de poucos dias, um pequeno vislumbre virá, o bastante para nos dar encorajamento e esperança. Certo comentarista da filosofia Yoga diz: "Quando uma prova é obtida, por pequena que seja, traz-nos fé no ensinamento integral da yoga". Esses vislumbres virão, aos poucos, de início, mas o bastante para vos dar fé, força e esperança. Por exemplo, se concentrardes vosso pensamento na ponta de vosso nariz, dentro de alguns dias começareis a sentir uma deliciosa fragrância, que será bastante para mostrar-vos que há certas percepções mentais que se podem tornar evidentes sem o contato dos objetos físicos.

Mas devemo-nos lembrar, sempre, de que esses são apenas os meios. A meta, o fim, o objetivo de todo esse treinamento, é a libertação da alma, Controle absoluto da natureza, e nada menos do que isso, deve ser o objetivo. Podemos ser os senhores, e não os escravos da natureza. Nem o corpo nem a mente devem ser nossos senhores, nem devemos nos esquecer de que o corpo é nosso e não somos do corpo.

Um deus e um demônio foram aprender a respeito do Eu com um grande sábio: Estudaram com ele durante muito tempo. Por fim, o sábio lhes disse: "Vós mesmos sois o Ser que estais procurando". Ambos pensaram que seus corpos eram o Eu. Voltaram ao seu povo, muito satisfeitos, e disseram: "Aprendemos tudo quanto há para aprender: comei, bebei, e alegrai-vos. Somos o Eu. Nada há além de nós".

A natureza do demônio era ignorante, enevoada, por isso jamais indagou para além daquilo, mas ficou perfeitamente satisfeito com a idéia de que era Deus, de que "Eu" queria dizer .,corpo". O deus tinha natureza mais pura. De início, cometeu o erro de pensar: "Eu, este corpo, sou Brama. Por isso, mantenho-o forte e saudável, bem vestido, e ofereço-lhe toda a sorte de prazeres". Dentro de poucos dias, porém, descobriu que não fora aquilo que o sábio, seu mestre, quisera dizer. Deveria haver algo mais alto. Assim, voltou, e disse: "Senhor, ensinaste-me que este corpo era o Eu? Se é assim, vejo todos os corpos morrerem, e o Eu não pode morrer".

O sábio falou: "Descobre: tu és Aquele!" Então, o deus pensou que o sábio se referisse às forças vitais que fazem o corpo trabalhar. Mas, depois de algum tempo, viu que se comesse, as forças vitais permaneceriam fortes, porém, se passasse fome, elas se tornariam fracas. Voltou ao sábio e disse: "Senhor, quereis dizer que as forças vitais são o Eu?" O sábio falou: "Descobre por ti mesmo: tu és Isto!"

O deus mais uma vez voltou para a sua casa, pensando que talvez a mente fosse o Eu. Logo depois, entretanto, viu que os pensamentos eram tão vários, ora bons, ora maus. A mente era mutável. demais para ser o Eu. Voltou ao sábio, e disse: "Senhor, acho que a mente não é o Eu. Foi isso que quisestes dizer?" E o sábio replicou: "Não. Tu és Aquele! Descobre por ti mesmo".

O deus voltou ao lar e finalmente descobriu que ele era o Eu, para além de qualquer pensamento, um, sem nascimento e sem morte, que o ar não podia secar ou a água dissolver; o sem começo e sem fim, o inabalável, o intangível, o onisciente, o Ser onipotente, que não era o corpo ou a mente, mas estava além de ambos. Assim, ficou satisfeito, mas o pobre demônio não obteve a verdade, porque amava demais seu próprio corpo.

O mundo tem grande número dessas criaturas demoníacas, ma tem alguns deuses, também. Se alguém se propõe ensinar qualquer ciência para aumentar a capacidade de sentir prazer, esse alguém encontra multidões prontas para receber seus ensinamentos. Se alguém pretende mostrar a meta suprema, bem poucos o querem ouvir. Se muito poucos têm o poder de alcançar o mais alto, ainda menor é o número dos que têm paciência para obter o mais alto. Mas também há outros, certos de que, embora o corpo pudesse ser feito para durar milhares de anos, o resultado, no fim, seria o mesmo. Quando as forças que o mantêm intacto desaparecem, o corpo tem de cair. jamais nasceu um homem que pudesse evitar, por um momento que fosse, as modificações de seu corpo. Corpo é o nome dado a uma série de modificações. "Assim como num rio as massas de água estão-se modificando diante de vós a cada momento, e novas massas vão chegando, embora tomem forma similar, o mesmo acontece com o corpo." Apesar disso o corpo precisa ser mantido sadio e forte. É o melhor instrumento de que dispomos.

Voltando ao nosso assunto, chegamos a seguir ao pranayama, controle da respiração. Que tem isso a ver com os poderes de concentração da mente? A respiração é como o volante desta máquina, o corpo. Numa grande máquina encontrais o volante se movimento, e aquele movimento é comunicado à maquinaria cada vez mais fina, até que o mais delicado, o mais fino maquinismo da máquina é posto em movimento. A respiração é o volante, suprindo e regulando a força motriz de tudo neste corpo.

Houve, certa vez, um ministro de um grande rei, que veio a cair em desgraça. O rei, como castigo, ordenou que o encerrassem numa torre muito alta. Isso foi feito, e ali o ministro foi deixado, para morrer. Tinha ele, entretanto, uma esposa fiel, que veio ter à torre, pela noite, e chamou o marido lá no alto para saber o que poderia fazer por ele. Disse-lhe o homem que voltasse na noite seguinte e trouxesse uma corda comprida, um pouco de cordão bem forte, barbante, fio de seda, um besouro, e um pouco de mel. Embora muito espantada, a boa esposa obedeceu e levou-lhe os artigos pedidos. O marido disse-lhe que amarrasse bem o fio de seda no besouro, depois untasse as antenas dele com uma gota de mel e o libertasse na parede da torre, com a cabeça voltada para cima. A mulher cumpriu aquelas instruções e o besouro iniciou sua longa jornada. Sentindo diante de si o cheiro do mel, foi-se arrastando para a frente, subindo, na esperança de alcançá-lo, até que chegou ao alto da torre, onde o ministro o agarrou e se apoderou do fio de seda. Disse, então, à esposa, que amarrasse na outra ponta o barbante, e depois de o ter içado, repetiu o processo com o cordão forte, e, finalmente, com a corda. O resto foi fácil. O ministro desceu da torre por meio da corda, e fugiu.

Neste nosso corpo o movimento respiratório é o fio de seda. Mantendo-o e aprendendo a controlá-lo, apanhamos o barbante das correntes nervosas. Delas virá o cordão forte de nossos pensamentos, e, finalmente, a corda do prana . Ao controlarmos o Prana, alcançaremos a liberdade.

Nada sabemos sobre nossos próprios corpos. Não podemos sabê-lo. Podemos, no máximo, cortar em pedaços um corpo morto, a fim de ver o que há dentro dele. Ainda assim, tal coisa nada tem a ver com os nossos próprios corpos. Sabemos bem pouco sobre eles. Por que acontece isso? Porque nossa atenção não é bastante discriminatória para perceber os movimentos muito finos que se dão lá dentro. Só podemos ter conhecimento deles quando a mente se torna mais sutil e, por assim dizer, entra mais profundamente no corpo. Para obter a percepção sutil, temos de começar pelas percepções mais grosseiras. Temos que nos apossar daquilo que põe toda a máquina em movimento. Isso é o prana, cuja mais evidente manifestação é a respiração. Então, com a respiração, entraremos lentamente no corpo, o que nos possibilitará a descoberta das forças sutis, das correntes nervosas que se estão movendo através dele. Assim que as percebermos e aprendermos a senti-Ias, começaremos a controlá-Ias, e a controlar o corpo. A mente também é posta em movimento por essas diferentes correntes nervosas. Assim, finalmente alcançaremos o estado de controle perfeito do corpo e da mente, fazendo de ambos os nossos servos. Conhecimento é poder. Temos de conseguir esse poder.

Assim que começardes a sentir essas correntes em movimento dentro de vós mesmos, todas as dúvidas se desvanecerão, mas isso exige rigorosa prática diária. Deveis praticá-lo pelo menos duas vezes por dia, e as melhores horas são ao amanhecer e ao anoitecer. Quando a noite se transforma em dia, e o dia em noite, surge um estado de relativa calma. A madrugada e o entardecer são dois períodos de tranqüilidade. Vosso corpo mostrará uma tendência para fazer-se calmo, nessas horas. Devemos aproveitar essa condição natural e começar a praticar, então. Tomai como regra não comer enquanto não tiverdes; praticado. Se fizerdes isso, a pura força da fome romperá vossa preguiça. Na o mais alto, ainda menor é o número dos que têm paciência para obter o mais alto. Mas também há outros, certos de que, embora o corpo pudesse ser feito para durar milhares de anos, o resultado, no fim, seria o mesmo. Quando as forças que o mantêm intacto desaparecem, o corpo tem de cair. jamais nasceu um homem que pudesse evitar, por um momento que fosse, as modificações de seu corpo. Corpo é o nome dado a uma série de modificações. "Assim como num rio as massas de água estão-se modificando diante de vós a cada momento, e novas massas vão chegando, embora tomem forma similar, o mesmo acontece com o corpo." Apesar disso o corpo precisa ser mantido sadio e forte. É o melhor instrumento de que dispomos.

Voltando ao nosso assunto, chegamos a seguir ao pranayama, controle da respiração. Que tem isso a ver com os poderes de concentração da mente? A respiração é como o volante desta máquina, o corpo. Numa grande máquina encontrais o volante se movimento, e aquele movimento é comunicado à maquinaria cada vez mais fina, até que o mais delicado, o mais fino maquinismo da máquina é posto em movimento. A respiração é o volante, suprindo e regulando a força motriz de tudo neste corpo.

Houve, certa vez, um ministro de um grande rei, que veio a cair em desgraça. O rei, como castigo, ordenou que o encerrassem numa torre muito alta. isso foi feito, e ali o ministro foi deixado, para morrer. Tinha ele, entretanto, uma esposa fiel, que veio ter à torre, pela noite, e chamou o marido lá no alto para saber o que poderia fazer por ele. Disse-lhe o homem que voltasse na noite seguinte e trouxesse uma corda comprida, um pouco de cordão bem forte, barbante, fio de seda, um besouro, e um pouco de mel. Embora muito espantada, a boa esposa obedeceu e levou-lhe os artigos pedidos. O marido disse-lhe que amarrasse bem o fio de seda no besouro, depois untasse as antenas dele com uma gota de mel e o libertasse na parede da torre, com a cabeça voltada para cima, A mulher cumpriu aquelas instruções e o besouro iniciou sua longa jornada. Sentindo diante de si o cheiro do mel, foi-se arrastando para a frente, subindo, na esperança de alcançá-lo, até que chegou ao alto da torre, onde ? ministro o agarrou e se apoderou do fio de seda. Disse, então, * esposa, que amarrasse na outra ponta o barbante, e depois de * ter içado, repetiu o processo com o cordão forte, e, finalmente, com a corda. O resto foi fácil. O ministro desceu da torre por meio da corda, e fugiu.

Neste nosso corpo o movimento respiratório é o fio de seda. Mantendo-o e aprendendo a controlá-lo, apanhamos o barbante

das correntes nervosas. Delas virá o cordão forte de nossos pensamentos, e, finalmente, a corda do prana . Ao controlarmos o Prana, alcançaremos a liberdade.

Nada sabemos sobre nossos próprios corpos. Não podemos sabê-lo. Podemos, no máximo, cortar em pedaços um corpo morto, a fim de ver o que há dentro dele. Ainda assim, tal coisa nada tem a ver com os nossos próprios corpos. Sabemos bem pouco sobre eles. Por que acontece isso? Porque nossa atenção não é bastante discriminatória para perceber os movimentos muito finos que se dão lá dentro. Só podemos ter conhecimento deles quando a mente se torna mais sutil e, por assim dizer, entra mais profundamente no corpo. Para obter a percepção sutil, temos de começar pelas percepções mais grosseiras. Temos que nos apossar daquilo que põe toda a máquina em movimento. Isso é o prana, cuja mais evidente manifestação é a respiração. Então, com a respiração, entraremos lentamente no corpo, o que nos possibilitará a descoberta das forças sutis, das correntes nervosas que se estão movendo através dele. Assim que as percebermos e aprendermos a senti-Ias, começaremos a controlá-Ias, e a controlar o corpo. A mente também é posta em movimento por essas diferentes correntes nervosas. Assim, finalmente alcançaremos o estado de controle perfeito do corpo e da mente, fazendo de ambos os nossos servos. Conhecimento é poder. Temos de conseguir esse poder.

Assim que começardes a sentir essas correntes em movimento dentro de vós mesmos, todas as dúvidas se desvanecerão, mas isso exige rigorosa prática diária. Deveis praticá-lo pelo menos duas vezes por dia, e as melhores horas são ao amanhecer e ao anoitecer. Quando a noite se transforma em dia, e o dia em noite, surge um estado de relativa calma. A madrugada e o entardecer são dois períodos de tranqüilidade. Vosso corpo mostrará uma tendência para fazer-se calmo, nessas horas. Devemos aproveitar essa condição natural e começar a praticar, então. Tomai como regra não comer enquanto não tiverdes praticado. Se fizerdes isso, a pura força da fome romperá vossa preguiça. Na Índia ensinam as crianças a jamais comer enquanto não tiverem praticado, ou feito seu culto, e isso, depois de algum tempo, se torna natural para elas. Um rapaz não sente fome enquanto não se banhou e não praticou.

Aqueles dentre vós que o puderem conseguir, devem ter um aposento exclusivo para essa prática. Não durmais nesse aposento, que deve permanecer sagrado. Não deveis entrar nele enquanto não vos tiverdes banhado e não estiverdes perfeitamente limpo de corpo e mente. Colocai sempre flores nesse quarto - são a melhor vizinhança para um yogue - e quadros agradáveis. Queimai incenso, pela manhã e à noite. Não deveis manter pensamentos profanos, coléricos, ou polêmicos naquele aposento. Nele só devereis permitir a entrada de pessoas que pensam como vós. Então, paulatinamente, uma atmosfera de santidade se estabelecerá no aposento, de forma que quando vos sentirdes angustiado, desgostoso, hesitante, ou quando vossa mente estiver perturbada, o simples fato de entrardes ali vos trará calma. Essa foi a idéia do templo e da igreja, e em alguns deles ainda hoje encontrais isso, embora na maioria a idéia se tenha perdido. O fato é que, criando vibrações sagradas num lugar, ele se tornará sagrado, e assim permanecerá. Os que não puderem ter um aposento separado, praticarão onde lhes pareça melhor.

Sentai-vos em postura direita. A primeira coisa a fazer é enviar uma corrente de pensamentos puros a toda criação. Repeti, mentalmente: "Que todas as - criaturas sejam felizes, que todas estejam em paz, que todas estejam na bem-aventurança." Fazei isso, para leste, para o sul, para o norte, e para o oeste. Quanto mais fizerdes isso, melhor vos sentireis. Descobrireis, finalmente, que a forma mais fácil de nos fazermos sadios é ver que os outros sejam sadios, e a maneira mais fácil de nos fazermos felizes é ver que os outros são felizes. Isso feito, os que acreditam em Deus devem rezar - não pedindo dinheiro, nem saúde, nem o céu. Rezai pedindo conhecimento e luz. Toda a prece que não seja essa, é egoísta. A seguir, pensai em vosso próprio corpo, e vede-o forte e saudável: é o melhor instrumento que tendes. Pensai nele como sendo forte como o diamante, e que com o auxílio desse corpo atravessareis o oceano da vida. A liberdade jamais é conseguida pelos fracos. Expulsai toda a fraqueza. Dizei ao vosso corpo que ele é forte, dizei à vossa mente que ela é forte, e mantende ilimitada fé e esperança em vós mesmos.

Teremos agora que enfrentar os exercícios de pranayama. O primeiro passo, de acordo com os yogues, é controlar os movimentos dos pulmões O que desejamos fazer é sentir os movimentos mais tênues que se dão em nosso corpo. Nossas mentes tornaram-se exteriorizadas e perderam de vista os movimentos interiores. Se pudermos começar a senti-los, poderemos começar a controlá-los. Essas correntes nervosas passam pelo corpo todo, levando vida e vitalidade a cada músculo, mas nós não as sentimos. O yogue diz que podemos aprender a senti-Ias. Como? Percebendo e controlando os movimentos dos pulmões. Quando tivermos feito isso pelo espaço de tempo suficiente, estaremos em condições de controlar movimentos mais tênues.

Sentai-vos direito: o corpo deve ser mantido direito. A medula espinhal, embora não ligada à coluna vertebral, ainda assim está dentro dela. Se vos sentais curvado, perturbais essa medula espinhal. Portanto, deixai-a livre. De todas as vezes que vos sentais curvado e tentais meditar, estais-vos prejudicando. As três partes do corpo - peito, pescoço e cabeça - devem ser mantidas sempre direitas, numa só linha. Vereis que com um pouco de prática isso vos virá tão facilmente quanto a respiração. A segunda coisa é o controle dos nervos. O centro nervoso que controla os órgãos respiratórios tem uma espécie de efeito controlador sobre os demais nervos, e a respiração rítmica é, portanto, necessária. A respiração que geralmente usamos não deveria ser chamada absolutamente respiração, pois é muito irregular.

A primeira lição é apenas respirar, em medida, para dentro e para fora. Isso harmonizará o sistema. Quando tiverdes praticado isso por algum tempo, fareis bem em juntar a repetição de alguma palavra, como Om, ou qualquer outra palavra sagrada. Na Índia usamos certas palavras simbólicas, em lugar de contar um dois, três, quatro. Por isso é que vos aconselho a juntar a repetição mental de Om ou de qualquer outra palavra sagrada ao pranayama. Que a palavra vá e venha com a respiração, ritmada, harmoniosamente, e vereis que todo o corpo se vai tornando rítmico. Depois aprendereis o que é o repouso. Comparado com ele, o sono não é repouso. Desde que tal repouso venha, acalmam-se os nervos mais cansados e verificareis que jamais tínheis repousado antes.

O primeiro efeito dessa prática é percebido pela mudança de expressão da face do praticante.

Linhas duras desaparecem e com o pensamento calmo, a tranqüilidade se espalha pelo tosto. Depois, vem uma bela voz. jamais vi um yogue que tivesse voz crocitante. Esses sinais aparecem depois de alguns meses de prática.

O yogue afirma que de todas as energias existentes no corpo humano, a mais alta é a que chamam ojas. Ojas está armazenada no cérebro, e quanto mais ojas houver na cabeça de um homem, mais poderoso ele será, mais intelectual e espiritualmente mais forte. Um homem pode falar uma bela linguagem e expor belos pensamentos, mas não impressiona o povo. Outro homem não fala bonita linguagem nem expõe bonitos pensamentos, e ainda assim suas palavras encantam. Cada momento seu é poderoso. Esse é o poder de ojas.

Em cada homem há maior ou menor quantidade dessa vias armazenada. Todas as forças que trabalham no corpo com a maior energia tornam-se ojas. Deveis recordar que se trata apenas de uma questão de transformação. A mesma força que está agindo fora, como eletricidade ou magnetismo, será transformada em força interior, e a mesma força que está agindo como energia muscular, será transformada em ojas. Os yogues dizem que parte da energia humana que se expressa através da ação e do pensamento sexual, quando refreada e controlada, facilmente se transforma em ojas. Somente o homem ou a mulher castos podem fazer as ojas subirem e se armazenarem no cérebro, e por isso a castidade foi sempre considerada a mais alta virtude. O homem sente que se não guardar castidade, a espiritualidade se vai, e ele perde vigor mental e resistência moral. Por isso é que em todas as ordens religiosas do mundo, que produziram gigantes espirituais, encontrareis sempre a castidade absoluta tratada com insistência. Por isso é que existem monges desistindo do casamento. Sem ela, a prática da Raja-Yoga é perigosa e pode levar à insanidade. Se a pessoa pratica a Raja-Yoga e ao mesmo tempo leva uma vida impura, como pode esperar tomar-se yogue?

O passo seguinte é chamado pratyahara. Que vem a ser isso? Sabeis como vem a percepção. Antes de mais nada há os instrumentos externos, depois os órgãos internos, agindo através dos centros do cérebro, e por fim há a mente. Que todos eles se reúnem e se ligam a algum objeto externo, nós percebemos esse objeto. Ao mesmo tempo, é muito difícil concentrar a mente e ligá-la apenas a um órgão. A mente é escrava.

Ouvimos: "Sê bom!", "Sê bom!", e "Sê bom!", ensinado por todo o vasto mundo. Dificilmente uma criança, nascida seja em que pais for, deixará de ter ouvido: "Não roubes!", "Não mintas!". Mas ninguém diz à criança como pode evitar tais coisas. Falar, apenas, não a auxilia. Por que não se tornaria ela um ladrão? Não lhe ensinamos como não roubar, mas dizemo-lhe, simplesmente: "Não roubes!" Só quando lhe ensinarmos a controlar sua mente, estaremos realmente auxiliando-a.

Todas as ações, internas e externas, ocorrem quando a mente se reúne a certos centros, chamados órgãos. Voluntária ou involuntariamente, ela é arrastada a reunir-se aos centros, e por isso é que as pessoas fazem coisa tolas e sentem-se angustiadas, o que não aconteceria se trouxessem a mente sob controle. Qual seria o resultado do controle da mente? Ela não se reuniria aos centros de percepção, e, naturalmente, sentimentos e vontade estariam sob controle.

Até aqui está claro. Mas é isso possível? É perfeitamente possível. Vós o vedes nos tempos modernos. Os que curam pela fé, ensinam as pessoas a negarem a angústia, a dor, o mal. Sua filosofia é um pouco em todas as direções, mas é uma parte da Yoga, sobre a qual de certa forma tropeçam. Quando conseguem que uma pessoa expulse o sofrimento através da negação dele, usam, realmente, uma parte de prayahara, pois fazem a mente da pessoa bastante forte para ignorar os sentidos. Os hipnotizadores, de maneira idêntica, excitam, no paciente, pela sua sugestão, uma espécie de pratyahara mórbido, por algum tempo. A chamada sugestão hipnótica pode atuar apenas sobre uma mente fraca, e enquanto o operador, através do olhar fixo ou de outro processo qualquer, não consegue levar a mente do paciente a uma espécie de condição passiva, mórbida, suas sugestões jamais funcionarão.

Bem: o controle dos centros, que é estabelecido pelo operador durante algum tempo, num paciente hipnotizado, ou num paciente que se cura pela fé, é censurável, porque o conduz à ruína definitiva. Não se trata, realmente, do controle dos centros do cérebro pelo poder da vontade da própria pessoa, mas é, por assim dizer, o entorpecimento da mente do paciente durante algum tem súbitos golpes que a vontade alheia lhe desfere, refreamento por meio de rédeas e força muscular a carreira de uma Parelha violenta, mas através do corpo, através de Não é com o que se contém pedido a outrem para que de golpes pesados na cabeça dos cavalos, a fim de aturdi-los por algum tempo, e torná-los dóceis. Através de cada um desses processos o homem sobre o qual se opera, perde parte de suas energias mentais, até que, por fim, a mente, em lugar de ganhar o poder de controle perfeito, torna-se massa informe e destituída de poder. O único destino do paciente será o sanatório de lunáticos.

Toda a tentativa de controle que não seja voluntária, que não seja feita pela própria mente do indivíduo, não só é desastrosa, mas frustra sua própria finalidade. A finalidade de cada alma é a liberdade, o domínio - liberdade em relação à escravização da matéria e do pensamento, domínio da natureza interna e externa. Portanto, tende o cuidado de não permitir que outros atuem sobre vós. Tende cuidado de não levardes outros à ruína, por ignorância. É verdade que alguns conseguem fazer bem a muitos, durante algum tempo, dando trilha nova para as suas propensões, mas ao mesmo tempo levam a ruína a milhões, pelas sugestões inconscientes que atiram em torno de si, levando homens e mulheres a essa condição mórbida, passiva, hipnótica, que os faz quase destituídos de alma, finalmente.

Quem quer que peça a alguém que acredite cegamente, ou arraste atrás de si as pessoas pelo poder controlador de sua vontade superior, faz mal à humanidade, embora não seja essa a sua intenção. Portanto, usai vossas próprias mentes, controlai vós mesmos o corpo e a mente, lembrai-vos de que a não ser que sejais uma pessoa doente, nenhuma vontade alheia pode agir sobre vós. Evitai todos que, por grandes e bons que sejam, vos peçam que acrediteis cegamente.

Por todo o mundo seitas dançarinas, saltadoras, vociferantes, têm existido, e sua influência espalha-se como infeção quando começam a cantar, a dançar e a pregar: também elas são uma espécie de hipnotismo. Exercem um controle singular durante certo prazo, sobre pessoas super-sensíveis, e chegam - ai! - com o correr do tempo, a degenerar raças inteiras. É mais saudável para as raças ou para os indivíduos permanecerem perversos do que se tornarem aparentemente bons através de tais controles alheios. Nosso coração abate-se ao pensarmos na quantidade de mal feito à humanidade por esses religiosos fanáticos, irresponsáveis, embora bem intencionados. Mal sabem que as mentes levadas a atingir de súbito o soerguimento espiritual sob as suas sugestões, com música e orações, estão simplesmente fazendo-se passivas, mórbidas e impotentes, abrindo-se a qualquer outra sugestão, mesmo que ela seja má. Mal sonham, essas pessoas ignorantes e iludidas, que enquanto se congratulam por causa de seus poderes miraculosos de transformar corações humanos, poder que imaginam ter-lhes sido infundido por algum Ser que está acima das nuvens, o que estão é lançando as sementes de decadência, crime, loucura, e morte, para o futuro. Portanto, cuidado com tudo quanto arrebate a vossa liberdade. Sabei que isso é perigoso e evitai-o por todos os meios ao vosso alcance.

Quem teve sucesso no ligar ou desligar sua mente dos centros, pela sua vontade, teve sucesso em pratyahara, o que significa ..reunir em direção", refrear os salientes poderes da mente, libertando-a do cativeiro dos sentidos. Quando pudermos fazer isso, realmente teremos caráter. Teremos, então, dado um grande passo em direção à liberdade: antes disso somos simples máquinas.

Como é difícil controlar a mente! Bem foi ela comparada ao macaco louco. Havia um macaco, irrequieto pela sua própria natureza, como são todos os macacos. Como se isso não bastasse, alguém fez com que ele tomasse bastante vinho, de forma que se tornou ainda mais irrequieto. Então, um escorpião lhe deu uma ferroada. Quando um homem recebe a ferroada de um escorpião, fica saltando durante um dia inteiro, e, assim, o pobre macaco viu sua condição tornar-se pior do que nunca. Para completar sua angústia, um demônio entrou nele. Que linguagem pode descrever a incontrolável inquietação daquele macaco? A mente humana é, como ele, incessantemente ativa por sua própria natureza. Então, embriaga-se com o vinho do desejo, crescendo assim a sua turbulência. Depois que o desejo se instalou, vem a ferroada do escorpião do ciúme pelo sucesso dos outros, e por fim o demônio do orgulho entra na mente, levando-a a imaginar-se importante. Como é difícil controlar a mente!

A primeira lição, portanto, é sentar-se por algum tempo, deixando a mente correr. A mente está borbulhando todo o tempo. É como o macaco a saltar. Deixai o macaco saltar tanto quanto possa e ficai apenas observando e esperando. Conhecimento é poder, diz o provérbio, e isso é verdade. Enquanto não souberdes o que a mente está fazendo, não podereis controlá-la. Dai-lhe rédeas. Muitos pensamentos hediondos podem vir, e ficareis estupefato ao verificar que podeis pensar tais coisas. Mas verificareis que dia a dia os caprichos da mente se tornam cada vez menos violentos; que cada dia ela vai ficando mais calma. Nos primeiros meses verificareis que a mente terá muitíssimos pensamentos, e mais tarde descobrireis que eles de certa forma diminuíram, e alguns meses depois serão cada vez menos, até que, por fim, a mente ficará sob perfeito controle. Mas deveis praticar pacientemente, todos os dias. Assim que o vapor for aberto, a máquina deve funcionar: assim que as coisas estão diante de nós, devemos percebê-las. Dessa maneira, um homem, para mostrar que não é máquina, deve demonstrar que não está sob controle de coisa alguma. Esse controle da mente, pelo qual não se permite que ela se reuria aos centros, é pratyahara, Como se pratica? É trabalho tremendo, que não se faz num dia. Só depois de luta paciente, que durará anos, conseguiremos ter Sucesso.

Depois de terdes praticado o pratyahara por algum tempo, dai o passo seguinte, o dhârana, conservando a mente sobre certos pontos. Que significa manter a mente sobre certos pontos? Significa forçar a mente e sentir certas partes do corpo, com exclusão de outras. Por exemplo, tentai sentir apenas a mão, com exclusão de todas as outras partes do corpo. Quando chitta, ou material-da-mente, se confina e se limita a um certo lugar, isso é dhârana. Esse dhârana existe de várias maneiras, e com ele é bom ter um pouco de jogo de imaginação. Por exemplo, leva-se a mente a pensar em um ponto do coração. Isso é muito difícil e a maneira mais fácil é imaginar que ali existe um lótus. Esse lótus está cheio de luz, de luz resplandecente. Colocai a mente ali. Ou pensai sobre o lótus do cérebro como cheio de luz.

O yogue deve sempre praticar. Deveria tentar viver sozinho. O companheirismo de uma quantidade de pessoas diferentes distrai a mente. Não deveria falar muito, porque falar distrai a mente e a mente não pode ser controlada depois de um dia de trabalho duro. Observando as regras acima, é possível tornar-se um yogue.

Tal é o poder da Yoga que mesmo em insignificante quantidade, trará grande quantidade de benefícios. Não magoará ninguém e fará bem a toda a gente. Antes de mais nada, acalmará a excitação nervosa, trará tranqüilidade, habilitar-nos-á a vermos as coisas mais claramente. O temperamento melhorará, e a saúde também melhorará.

Quando uma pessoa começa a concentrar-se, a queda de um alfinete parecerá um corisco a atravessar-lhe o cérebro. Conforme os órgãos se tornam mais delicados, as percepções se tornam mais sensíveis. Há estágios através dos quais teremos de passar, e todos os que perseveram têm sucesso. Deixai de lado todas as discussões e outras distrações. Há alguma coisa no seco jargão intelectual ? Ele apenas tira a mente de seu equilíbrio e a perturba. Coisas dos planos mais sutis têm de ser compreendidas. Falar não leva a isso. Portanto, abandonai toda a conversa fútil. Lede apenas os livros escritos por pessoas que tiveram a compreensão.

Os que realmente desejam ser yogues, devem abandonar, de uma vez para sempre, esses mordiscos a todas as coisas. Tomai convosco uma idéia. Fazei dessa idéia a vossa vida. Pensai nela. Sonhai com ela. Vivei-a. Deixai o cérebro, os músculos, os nervos, todas as partes do vosso corpo, encherem-se dessa idéia, e ponde de lado qualquer outra. Esse é o caminho para o sucesso, e esse é o caminho que produz os grandes gigantes espirituais.

Quatro Yogas deAuto-Realização


Swami Vivekananda

Nenhum comentário:

Postar um comentário