sexta-feira, 1 de julho de 2011

O HOMEM: AS VIAGENS

O homem, bicho da terra tão pequeno

Chateia-se na terra

Lugar de muita miséria e pouca diversão;

Faz um foguete, uma cápsula, um módulo

Toca para a Lua

Desce cauteloso na Lua

Pisa na Lua

Planta bandeirola na Lua

Experimenta a Lua

Coloniza a Lua

Civiliza a Lua

Humaniza a Lua



Lua humanizada: tão igual a Terra.

O homem chateia-se na Lua



Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.

Elas obedecem, o homem desce em Marte

Pisa em Marte

Experimenta

Coloniza

Civiliza

Humaniza Marte com engenho e arte



Marte humanizado, que lugar quadrado.

Vamos a outra parte?

Claro – diz o engenheiro sofisticado e dócil

Vamos a Vênus.

O homem põe o pé em Vênus,

Vê o visto – é isto?

Idem

Idem

Idem



O homem funde a cuca se não for a Júpiter

Proclamar justiça junto com a injustiça

Repetir a fossa

Repetir o inquieto

Repetitório.

Outros planetas restam para as outras colônias.



O espaço todo vira Terra-a-Terra.

O homem chega ao Sol ou dá uma volta

Só para te ver?



Não vê que ele inventa

Roupa insiderável de viver no Sol.

Põe o pé e:

Mas que chato é o Sol, falso touro

Espanhol domado.



Restam outros sistemas fora

Do solar a colonizar.



Ao acabarem todos

Só resta ao homem

(estará equipado?)

a dificílima dangerosíssima viagem

de si a si mesmo:

Por o pé no chão

Do seu coração

Experimentar

Colonizar

Civilizar

Humanizar o homem

Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas

A perene, insuspeitada alegria de conviver



Carlos Drummond de Andrade

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